"Acontece que a abertura de 30% de setor privado faz uma grande diferença na vida da sociedade cubana, que passa a criar pequenas e médias empresas", completa.
A descentralização da política é um ponto mais polêmico. A Assembleia Nacional do Poder Popular é formada por deputados com salários próximos da média salarial do povo, 40% são negros e 53% são mulheres, mas, em termos ideológicos, a coisa muda de figura.
“Há um predomínio absoluto de militantes do Partido Comunista (96%). Setores não partidários poderiam ter mais participação. Existem grupos apoiadores da Revolução, identificados com o socialismo, mas que defendem o fortalecimento dos organismos de base, como os Conselhos Populares, e a criação de mais canais de representatividade e de debate público”, continua Salém.
A visão de Díaz-Canel sobre essa importante encruzilhada do regime cubano, no entanto, continua uma incógnita.
A aproximação entre os dois países, movimento que vinha sendo implementado no governo Obama, foi freado quando Donald Trump assumiu a presidência dos EUA. As embaixadas voltaram a se instalar em Havana e Washington, e Obama chegou a visitar Cuba em 2016, reduzindo a tensão de décadas entre a superpotência capitalista e o pequeno enclave socialista situado a poucos quilômetros de sua costa.
O futuro, porém, depende muito mais do governo americano do que de Cuba.
"A abertura empreendida por Obama foi paralisada. Entretanto, Trump não a reverteu. E é do interesse de empresas americanas ganhar e consolidar acesso ao mercado cubano. Tudo isto está sujeito a ventos e a trovoadas", comenta o professor Aarão Reis.
"Mas uma coisa é certa: um eventual endurecimento dos EUA só fará o jogo dos conservadores cubanos que desejam manter como está uma ditadura política que já foi revolucionária e que, há muito, se tornou basicamente conservadora", completa.
Quando o novo presidente assumir, o caçula dos irmãos Castro não renunciará a todas as suas funções. Ele continuará atuando como secretário-geral do Partido Comunista de Cuba até 2021, além de seguir como deputado nacional e líder das Forças Armadas.
Raúl sucedeu Fidel interinamente em 2006 e definitivamente em 2008, após ser o número 2 durante os anos de governo do irmão mais velho.
Na Revolução de 1959, Raúl, sob a liderança de Fidel, ajudou a derrubar o governo cubano comandado pelo ditador Fulgencio Batista. Após a tentativa bem sucedida de tomar o poder na ilha, Fidel já anunciava que seu irmão caçula deveria ser seu sucessor. Meses depois, ele assumiu o posto de Ministro da Defesa.
Invasão da Baía dos Porcos e Crise dos Mísseis
Em 1961, tropas cubanas lideradas por Raúl conseguiram impedir a invasão da Baía dos Porcos por um grupo de paramilitares treinados pela CIA. A derrota dos EUA no episódio, que durou 4 dias, foi significativa para o estabelecimento do regime de Fidel.
Um ano depois, durante visita à União Soviética, Raúl recebeu a promessa de que teria mísseis instalados em Cuba, o que acabou levando à Crise dos Mísseis. O conflito entre Estados Unidos e União Soviética durou 13 dias e terminou depois que Kennedy, então presidente dos EUA, concordou em retirar mísseis americanos da fronteira entre a Turquia e a União Soviética.
Em outubro de 1997, o Partido Comunista definiu oficialmente que Raúl seria o sucessor de Fidel Castro quando este tivesse que deixar o poder. Em 2006, Fidel precisou se afastar por causa de uma cirurgia no intestino, e Raúl assumiu interinamente o comando da ilha.
Dois anos depois, Raúl se tornou oficialmente o novo presidente de Cuba, após Fidel renunciar devido à saúde já debilitada.
Desde então, Raúl se mostrou mais flexível que o irmão e comandou pequenas mudanças na vida em Cuba, abrindo o país para investimentos estrangeiros, empresas privadas e para a compra e venda de imóveis. Também permitiu viagens de cubanos ao exterior.
Já na reta final de seu mandato, recebeu Barack Obama e retomou as relações diplomáticas de Cuba com os EUA, após 52 anos de embargo.
Foi casado por 48 anos com Vilma Espín, sua companheira de Revolução que morreu em 2007. Ele tem três filhas, incluindo a deputada Mariela Castro, e um filho, o influente coronel Alejandro Castro, nove netos e uma bisneta.
Durante o período de Raúl Castro na presidência, a relação do país caribenho com o Brasil teve capítulos importantes.
Em 2014, a então presidente Dilma Roussef participou da inauguração do Porto de Mariel em Cuba. A obra foi feita com um empréstimo de US$ 802 milhões (cerca de R$ 3,1 bilhões) do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) com um prazo de 25 anos. A obra ficou a cargo da empreiteira Odebrecht na época.
Também durante o governo Dilma, Brasil e Cuba iniciaram a parceria do Programa Mais Médicos, que tem o objetivo de levar profissionais brasileiros e estrangeiros a áreas carentes das periferias de grandes cidades e também para o interior do país.
Por intermédio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Cuba enviou diversos profissionais para atuar como médicos no Brasil, inicialmente com contratos de três anos. O governo de Michel Temer deu continuidade ao programa em 2016, sancionando uma lei que prorrogou o projeto por mais três anos.
FONTE : G1 NOTÍCIAS