Nesta nova denúncia, ex-governador é acusado de praticar 25 atos de evasão de divisas, 30 atos de lavagem de dinheiro e nove de corrupção ativa. Doleiro Juca Bala também virou réu.
O Juiz federal Marcelo Bretas aceitou nesta quarta-feira (8) nova denúncia do Ministério Público Federal contra Sérgio Cabral. O ex-governador passa a ser réu em seis processos da Lava Jato e é acusado de chefiar o esquema de propinas e lavagem de dinheiro que ocultou cerca de R$ 318 milhões no exterior.
Nesta nova denúncia, que inclui outras oito pessoas, Cabral é acusado de praticar 25 atos de evasão de divisas por enviar dinheiro para o exterior sem declarar, 30 atos de lavagem de dinheiro e nove de corrupção ativa.
Foi denunciado também o doleiro brasileiro preso no Uruguai, Vinicius Claré, conhecido como Juca Bala. A denúncia é um desdobramento da Operação Eficiência, que prendeu o empresário Eike Batista e investiga crimes de lavagem de dinheiro de US$ 100 milhões – o equivalente a mais de R$ 300 milhões. Os valores foram distribuídos em 10 contas em paraísos fiscais no exterior.
MPF acusa Juca Bala e o sócio dele, Claudio Barbosa, conhecido como Tony ou Peter, de serem os doleiros que ajudaram a movimentar esse dinheiro no esquema chefiado por Sérgio Cabral.
Os investigadores dizem que Juca Bala e Claudio movimentaram ao menos US$ 85 milhões desviados dos cofres do Estado do Rio. De acordo com o MPF, os doleiros integram organização criminosa e tinham contato estreito com a empresa Odebrecht.
Além de enviar dinheiro para o exterior, os procuradores descobriram que Vinicius Claret e Claudio de Souza também traziam recursos de fora para o Brasil. Segundo a denúncia, entre 2011 e 2014, eles fizeram com que US$ 3 milhões de propina da Odebrecht viessem de offshores da construtora para as mãos do ex-governador.
Denunciado pela sexta vez, Cabral já era réu em cinco processos da Lava Jato e está preso, desde novembro de 2016, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio.
Além do ex-governador do Rio e de Claret, também foram denunciados nesta quarta Claudio de Souza e outras cinco pessoas. Entre elas, está o ex-secretário de Governo, Wilson Carlos, o operador financeiro do esquema, Carlos Miranda, e os irmãos doleiros Renato e Marcelo Chebar.
Veja os denunciados e os crimes de que são acusados:
• Sérgio Cabral (ex-governador do Rio, acusado de chefiar o esquema): 25 crimes de evasão de divisas, 30 de lavagem de dinheiro e 9 de corrupção ativa.
• Vinícius Claret, o Juca Bala (doleiro): 25 crimes de evasão de divisas, 9 de corrupção passiva, 9 de lavagem de dinheiro e crime de pertencimento à organização criminosa
• Cláudio Fernando de Souza, o Tony ou Peter (doleiro): 25 crimes de evasão de divisas, 9 de corrupção passiva, 9 de lavagem de dinheiro e crime de pertencimento à organização criminosa
• Carlos Miranda (acusado de ser operador do esquema): 25 crimes de evasão de divisas e 21 crimes de lavagem de dinheiro
• Wilson Carlos (ex-secretário de Governo): 5 crimes de evasão de divisas e 18 de lavagem de dinheiro
• Sérgio Castro de Oliveira, o Serjão (ex-assessor de Sérgio Cabral): 8 crimes de evasão de divisas
• Timothy Scorah Lynn: 9 crimes de corrupção ativa e 9 de lavagem de dinheiro
• Renato Chebar (doleiro): 25 crimes de evasão de divisas e 21 crimes de lavagem de dinheiro
• Marcelo Chebar (doleiro): 25 crimes de evasão de divisas e 21 crimes de lavagem de dinheiro
Segundo delações premiadas, Claret foi acionado pelos irmãos Chebar para ajudar a movimentar o grande volume de dinheiro de Cabral no exterior.
Juca Bala e Claudio foram presos no Uruguai na última sexta-feira (3). Eles estavam na difusão vermelha da Interpol, a polícia internacional, e foram presos em ação conjunta da polícia do Uruguai com a Polícia Federal brasileira.
A equipe de reportagem não conseguiu contato com a defesa de Sérgio Cabral, de Vinícius Claret e de Cláudio de Souza. A defesa dos irmãos Chebar não quis se manifestar.
A construtora Odebrecht reafirmou o compromisso de colaborar com as autoridades e que está implantando melhores práticas baseadas na ética, na transparência e na integridade.
Contato com a Odebrecht
Antes da prisão dos doleiros, os repórteres Carlos de Lannoy e Arthur Guimarães foram até o balneário uruguaio de Punta del Este e descobriram o paradeiro de Juca Bala. Lá, ele aparece como sócio no contrato de criação da Paddle Board Uruguay. A empresa faz importação, exportação, representação e venda de material esportivo.
As reportagens do Jornal Nacional, citadas na denúncia do Ministério Público Federal, mostrou que Juca Bala não usava o número de telefone preso na porta da loja dele apenas para vender pranchas. Era também o contato do doleiro com o setor de operações estruturadas da Odebrecht, mais conhecido como departamento de propina.
O número do celular da loja de pranchas é o mesmo que aparece na agenda de Maria Lúcia Tavares, ex-secretária da Odebrecht que, em acordo de delação, ela revelou como funcionava o esquema de propina na empreiteira .
Fonte G 1 globo de Notícias